segunda-feira, 25 de abril de 2022

VAMOS FALAR DE CHOCOLATES ?

 

foto by Marcus Knott



Tudo começou quando Gregor Mendel começou a observar ervilhas e demonstrou que os genes ocorrem em pares, criando conceitos que serviram como base para o desenvolvimento da genética e da compreensão do DNA.

A pelagem dos cães é determinada por diferentes pares de genes, tornando seu estudo um pouco mais complexo e extremamente interessante. Vou tentar explicar passo a passo para facilitar a compreensão desse universo mágico de cores que podemos observar nas mais diferentes raças caninas. Neste post vou me ater basicamente ao genótipo que determina o fenótipo fígado (chocolate).

A cor fígado em algumas raças recebe a denominação de chocolate e é ocasionada pelo gene recessivo "b". Por ser recessivo para que o fenótipo ocorra é necessário que esteja em homozigose ou seja "bb" (a presença do gene "B" não permite a expressão da cor fígado).
O gene B afeta somente a eumelanina (pigmento preto), sendo assim para ter a cor fígado, é preciso que se tenha o dupla "b" associado a presença da eumelanina (isso inclui também os merles e os mantados).

Para ser considerado fígado (chocolate) o cão NÃO pode apresentar pelos preto na pelagem! É geneticamente impossível um cão figado apresentar pelos pretos ou cinzas (azul), assim como é impossível um cão preto ou  cinza possuir marcações fígado na pelagem.

O fígado não é a diluição de uma cor e sim a forma homozigota recessiva da eumelanina! Este é um ponto importante para que se possa compreender as nuances de marrom existentes.
O termo diluição somente pode ser utilizado quando tem-se a presença do locus D, cujo gene recessivo "d" irá diluir o fígado ou o preto levando as cores conhecidas como isabela, lilac, light chocolate e azul.
Assim como a pelagem, as cores da trufa e dos olhos também serão afetadas por esses mesmos genes. 

O cão fígado (chocolate) pode, entretanto, conter também a feomelanina cuja expressividade irá depender da presença dos locus A e K 



Como o locus "D" afeta de forma diferente a eumelanina e a feomelanina, quando acompanhado do gene At  teremos os cães conhecidos como black and tan e chocolate and tan (exemplo - doberman)

(foto - internet / google)






Se além do At tivermos também a presenta do locus S teremos as pelagens tricolores observadas por exemplo  na raça terrier brasileiro e no cão de crista chinês 

Terrier brasileiro - pelagem tricolor 
(Foto Thayana Andrade - Canil Jardim Imbuí)


Cão de Crista Chinês 
(Foto; M. Baptista)


Algumas vezes a feomelanina é confundida com a eumelanina levando a erros na classificação e denominação das pelagens principalmente em raças onde uma ampla variedade de cores é aceita. Dependendo da forma como se expresse a feomelanina pode acarretar um tom castanho que lembra a cor fígado. Este "falso chocolate" terá trufa  preta, olhos predominantemente escuros e pode ou não apresentar pelos pretos na forma de patch ou nas pontas (locus A - alelos Ay / sable )


Spitz Alemão (Pomerânia) - repare na  mudança na cor do filhote para o adulto 
Foto: Rafael Pina - Canil Life Kingdom


Cão de Crista Chinês - pelagem vermelho sable 
(Foto: M. Baptista)


Em algumas raças a cor fígado é chamada de vermelho. Isto, do ponto de vista genético, é incorreto e faz com que muitos confundam o vermelho escuro com o fígado. Vale ressaltar que o vermelho se origina a partir da feomelanina e o fígado (chocolate) a partir da eumelanina, logo são cores completamente distintas do ponto de vista genotípico.

Repare nas duas fotos abaixo. Ambos os cães apresentam tan points (são tricolors) e se olhar rapidamente pode parecer que ambos são da mesma cor. Entretanto, se olhar com atenção ira perceber que o Aussie apresenta trufa da mesma cor da pelagem e tem um tom mais uniforme, enquanto que o chinese tem nuances mais escuros e trufa preta. O primeiro é um cão de pelagem fígado verdadeira ("bb"), enquanto o segundo apresenta cor derivada da expressão da feomelanina.


No caso da feomelanina temos alguns outros locus interferindo (locus A, K e E)  mas vamos deixar essa conversar para um proximo post. 

sábado, 26 de março de 2022

DIROFILARIOSE - VERME DO CORAÇÃO

 


A Dirofilariose é uma doença crônica causada por um verme chamado Dirofilaria. Uma vez que o cão seja contaminado pela larva (microfilária) ainda levará algum tempo até que esta se desenvolva e se instale no coração e nas artérias pulmonares.

A transmissão é feita por mais de uma espécie de mosquito e pesquisas recentes mostram que a doença não está mais restrita as áreas de praia e que vem se espalhando rapidamente por diversos estados do Brasil. A verminose é mais comum em cães mas também pode acometer gatos.

É uma doença silenciosa e portanto perigosa, pois o animal somente começa a apresentar sintomas, como tosse, cansaço, intolerância a exercício e apatia quando seu coração já está com uma quantidade muito grande de vermes adultos e a doença se encontra num estado avançado, muitas vezes irreversível.


    Dirofilaria sp - vermes adultos  
    foto by Mirko SAjkov - 


A boa notícia é que você pode fazer a prevenção para que seu cão não seja contaminado. Fazendo a prevenção no seu cão, você evita também que a doença seja ainda mais disseminada. Então, siga as orientações do veterinário e mantenha seu pet protegido.


domingo, 13 de março de 2022

OBSTRUÇÃO URETRAL EM GATOS


    

     A obstrução uretral ocorre com muita frequência em gatos, especialmente em machos, e podem ter causas diversas.  O sintoma principal é a incapacidade de urinar. O animal tenta mas não consegue pois o canal de passagem da urina está obstruído ("entupido"). É uma situação bastante grave e que necessita de atendimento de emergência. 

     Por ser um tema muito extenso irei dividir em mais de uma postagem para que não fique muito cansativa a leitura. Hoje falaremos do problemas de uma forma mais geral, vamos conversar um pouco sobre o porquê da necessidade de atendimento de emergência e de como saber quando procurar ajudar de um médico veterinário.   

   CAUSAS 

    As causas de obstrução mais comuns são por mucoproteínas e por presença de urólitos ("cálculos"), mas também podem ocorrer por transtornos funcionais da musculatura e neoplasias. Os felinos obstruídos possuem um processo inflamatório das vias urinárias que é acompanhado da presença de minerais (cristais e urólitos). 

   FISIOPATOLOGIA

    Vamos tentar entender o porquê é tão grave. O rim produz urina o tempo todo e essa urina é mandada para a bexiga. A bexiga é uma bolsa que cada vez que fica cheia envia uma mensagem pro cérebro avisando que o animalzinho precisa ir esvaziá-la. Agora imagine se tem uma pedrinha ou alguma outra coisa ali no caminho que não deixe a urina sair. Imaginou?  O rim vai continuar a funcionar, a urina não tem como sair, a vesícula urinária ("bexiga")  vai continuar tentando esticar pra conseguir acomodar todo aquele líquido mas sua capacidade é limitada. 

   Duas situações, ambas muito muito graves, podem acontecer: (1)  esse líquido começar a voltar ocasionando lesões no rim (por vezes irreversíveis); (2) a tensão dentro da bexiga ficar muito alta e haver o rompimento desta, acarretando o vazamento de urina e partículas com potêncial inflamatório (patógenos, urólitos, muco, sangue) para cavidade abdominal. 


    O QUE FAZER ? 

    Procurar imediatamente por um médico(a) veterinário(a) de sua confiança é imprescindível para o sucesso do tratamento, pois é uma situação muito grave e se não atendido a tempo o animalzinho pode inclusive vir a óbito. 

    O tratamento irá depender muito da causa e somente um vet será capaz de decidir qual o melhor método utilizar, Em alguns casos manobras são realizadas e a desobstrução é feita com a passagem de uma sonda uretral e lavagem da bexiga para retirada de todas as sujidades ali presentes. Entretanto algumas vezes pode ser necessária intervenção cirúrgica de emergência.

    É de extrema relevância que alguns pontos sejam observados:

- nunca tente passar uma sonda em seu próprio animal sem conhecimento técnico, pois um erro pode causar danos sérios a uretra como hemorragia e até mesmo rompimento da bexiga. 

- se seu gato(a) está sem urinar, primeiramente verifique se a caixinha de areia está suja, alguns animais não gostam de usar bandejas sujas e ficam "se prendendo". Ás vezes a simples troca da areia faz com que o seu bichano vá lá urinar.

- a presença de urina o excesso de força para urinar não é normal  - se observar isso - não espere  - procure logo um vet de sua confiança.

- nunca fique apertando a barriga do seu gatinho para que ele faça 'pipi" - você pode causar lesões ou mesmo romper a bexiga se ela estiver muito cheia e não houver passagem para saída da urina.

- o sucesso do tratamento depende não somente do seu veterinário mas também do tempo que você levará para procurar ajuda. Lembre-se veterinários não podem fazer milagres, quanto mais precoce for o atendimento maior a chance de sucesso. 


Referências Bibliográficas

Sozinho, A.C.C.F. 2019. Frequência da infeção bacteriana do trato urinário inferior como causa de obstrução uretral felina : estudo retrospetivo de 60 casos clínicos. Universidade de Lisboa, Faculdade de Medicina Veterinária, Lisboa.  https://www.repository.utl.pt/handle/10400.5/17335

SOUZA, LD.P  et al. 2021. O papel das urolitiasis na obstrução uretral de felinos domésticos: uma revisão de literatura. Research Society and Development v.10 n8. 

YEPES, G.E. et al. 2019. Obstrução uretral em felinos. Revista Unilago v1.n1. 

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

FOGOS DE ARTIFÍCIO


 

 Os fogos de artifício são a vários anos utilizados nas comemorações de final de ano ao redor do mundo entretanto por muito tempo seu efeito sofre o meio ambiente foi totalmente negligenciado. 

Estudos mostram que apesar do colorido que ilumina o céu e encanta muitas pessoas os malefícios que causam não só para o ecossistema mas para o próprio ser humano são incontáveis. 

O que primariamente chamou a atenção de biólogos, etólogos e conservacionistas é o barulho e seu impacto sobre a fauna. Inúmeras  aves morrem pelo estresse causado pelo  forte ruído (quer seja pelo efeito metabólico como por ex aumento do batimento cardíaco, ou comportamental, como pode ser observado nos voos incoordenados gerados pelo pânico). Animais domésticos, caninos e felinos, por possuírem uma audição muito mais apurada também são afetados. 

Uma coisa entretanto que pouco se divulga é que ao queimar os fogos de artifício emitem toxinas e os resíduos que devem ser recolhidos para evitar a contaminação do solo. Em eventos públicos realizados sobre a água não há como ter total controle da quantidade de dejetos, toxinas, metais pesados que irão ser deixados para trás envenenando peixes e  prejudicando toda a vida marinha. 

É importante que cada vez mais as pessoas tenham consciência de que existem outras formas de se comemorar sem contaminar o ambiente e sem o barulho que prejudica animais terrestres e aquáticos. Vamos ter mais respeito pela vida, 





sábado, 17 de abril de 2021

CARRAPATOS

 


Os carrapatos são artrópodes pertencentes ao grupo dos ácaros sendo responsáveis pela transmissão de uma série de doenças entre as quais vale destacar: Babesiose, Erlichiose, Anaplasmose e a Febre maculosa. Além disso a presença de grandes infestações pode levar o animal a um quadro de anemia (devido a constante perda de sangue), reações alérgicas (dermatites de contato), automutilação (pelo prurido causado), neuropatias e morte. 

Os carrapatos só se alimentam uma vez a cada fase da vida, uma vez fixados irão se soltar somente para fazer ecdise ou postura (no caso das fêmeas adultas). 

As fêmeas são maiores que os machos e quando adultos chamam atenção pois ficam com seu corpo bastante distendido até realizarem a postura do ovos. 

O uso indiscriminado de drogas carrapaticidas tem ocasionado uma maior resistência nos ácaros, dificultado o seu controle. Os carrapatos adultos em geral não são sensíveis a maioria das drogas ao contrário das ninfas e larvas que morrem facilmente. Deste modo, um controle eficaz deve incluir a retirada de todos os adultos do corpo do animal antes da aplicação do carrapaticida. Os carrapatos retirados devem ser jogados em um recipiente com álcool ou queimados pois são resistentes a água, podendo manter-se submersos por várias horas sem que venham a óbito.

A melhor maneira de evitar que seu animalzinho sofra é através da prevenção, consulte sempre seu veterinário, um check up anual pode salvar a vida do seu melhor amigo. 

sexta-feira, 2 de abril de 2021

MASTOCITOMA EM CÃES


 

O mastocitoma é um tumor maligno bastante  frequente em cães, caracterizado pela proliferação neoplásica de mastócitos oriundos da medula óssea e do tecido conjuntivo. O local de maior incidência é a pele mas qualquer órgão pode ser afetado, sendo comum a presença de síndromes paraneoplásicas associadas a este tipo de tumor. 

De acordo com a  literatura aparentemente não há predisposição quanto ao sexo, porém se observa uma maior frequência desta neoplasia em cães da raça boxer e em bulldogues. A morfologia é bastante variável podendo surgir apenas um ou mais nódulos, simultaneamente em locais variados, com formas diferenciadas, algumas vezes com presença de ulcerações. 

Existem dois tipos de graduação utilizados por patologistas para classificação do mastocitoma: 

- o sistema proposto por Patnak et al (1984) que gradua de I a III. No sistema Patnak um tumor grau I dificilmente apresenta complicações, sendo raro a presença de metastáses, tendo portanto um melhor prognóstico. Um mastocitoma tipo II tem comportamento bastante imprevisível e comportamento biológico bastante variável sendo necessário exames complementares e a avaliação de outros parâmetros para se ter um possível prognóstico. O terceiro tipo (mastocitoma grau III) é o mais grave, tem comportamento agressivo, sendo o prognóstico reservado. Neste subtipo as metástases são frequentes e há alta chance de recidiva. 

- o sistema proposto por Kiupel et al (2011) que define como alto ou baixo grau de malignidade. De acordo com a literatura pesquisada um tumor de alto grau pelo sistema Kiupel se dependendo da precocidade do tratamento e da amplitude da neoplasia tem sobrevida de 4 meses a 2 anos 


TRATAMENTO 

A exérese cirúrgica associado a um tratamento complementar a ser determinado pelo médico veterinário após avaliação de cada caso em particular, podendo ser utilizada quimiotererapia, radioterapia ou crioterapia.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KIUPEL, M et al. . Proposal of a 2-tier histologic grading system for canine cutaneous mast cell tumors to more accurately predict biological behavior. Vet. Pathol. v.48. p.147, 2011. 

NATIVIDADE,F.S, et al. Análise de Sobrevida e Fatores Prognósticos de cães com mastocitoma cutâneo. Pesq. Vet. Bras. n.34. v.9. p.878-888. 2014

PATNAIK A.K., et al.  Canine cutaneous mast cell tumor: morphologic grading and survival time in 83 dogs. Vet. Pathol. n.21, p.469-474. 1984


sábado, 23 de janeiro de 2021

CRIPTOSPORIDIOSE EM CÃES

por Dra Márcia Baptista 



 A Criptosporidiose é uma doença causada por uma protozoário cosmopolita  (Filo Apicomplexa, Família Cryptosporiididae), o Cryptosporidium spp. A doença é mais frequente em cães mas também acomete gatos, bovinos e humanos. 

A infecção ocorre através do consumo de água e alimentos contaminados e pela ingestão direta de ovos (oocistos) contidos nas fezes em parques e áreas onde os animais costumam brincar. O parasita é bastante resistente e pode permanecer por longo tempo no ambiente. 

Os sintomas mais comuns são diarréia e febre. Outros sintomas incluem: perda de apetite, perda de peso, desidratação, letargia. Em filhotes e animais imunodebilitados a doença ocorre de forma grave e se não tratada rapidamente pode levar a óbito.

Cães adultos e saudáveis muitas vezes apresentam sintomas leves ou permanecem por um longo período assintomáticos.  Por isso é importante sempre recolher as fezes dos cães, manter sempre limpo e desintectado o ambiente onde seu pet vive e fazer exames períodicos. Quando tratada precocemente de forma adequada as chances de cura são de 100%

O diagnóstico é feito através de um exame de fezes e o tratamento deve incluir anti-protozoose e medicação de suporte de acordo com a gravidade dos sintomas. Não faça medicamentos sem o conhecimento e acompanhamento de um médico veterinário!


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

CRMV-MG. 2019. Atlas de  parasitologia veterinária; Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, 92. 76p.

MOREIRA et al. 2018. Risk factors and infection due to Cryptosporidium spp. in dog and cats in southern Rio Grande do Sul. Braz.J.Vet. Parasitol. 27 (1):112-117. 

MORGAN et al, 2000. Cryptosporidum spp. in domestic dogs: the "Dog" genotype. Applied and Environmental Microbiology, 66 (5): 2220-2223