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quinta-feira, 6 de abril de 2023

DIROFILARIOSE - VERME DO CORAÇÃO

 O vídeo a seguir já foi gravado tem algum tempo mas continua bastante atual. O problema continua e número de casos nas regiões endêmicas do Brasil não regrediu. A falta de informação ainda é o maior obstáculo na luta contra doença. 

    Algumas pessoas acreditam que uma vez constatada a doença que não há tratamento mas isso não é verdade. Nos últimos anos tive sucesso com um grande número de paciente, alguns dos quais já se encontravam em estado avançado. Contudo é importante a colaboração do proprietário que deverá seguir corretamente as prescrições para que possamos ter êxito. 

    Se você gostar do vídeo, curta, compartilha, se inscreva no canal. Vamos passar essas informações adiante e ajudar nossos pets a terem uma melhor qualidade de vida. 




terça-feira, 21 de março de 2023

FENDA PALATINA

 Os defeitos congênitos no palato de pequeno de animais são observados com maior frequência em cães do que em gatos, especialmente nas raças braquicefálicas (ex. bulldog, dogue de bordeaux, boxer, etc)


cadela da raça bulldog inglês com fenda lábial
(fonte - HETTE & RAHAL, 2004 - Rev.Clin.Vet 50)

  Estas má-formações podem acometer o palato primario, o palato secundário ou ambos.  As fendas palatinas primárias são aquelas localizadas cranialment ao forame incisivo e envolvem o lábio, enquanto as fendas secundárias ocorrrem caudalmente ao forame incisivo. As fendas do palato primário incluem o lábio fendido (lábio leporino = queilosquise), processo alveolar fendido (alveolosquise) ou ambos (alveoqueilosquise).

neonato com fenda completa de palato secundário na linha média
(foto: Dra. M. Baptista)

    A fenda do tipo secundária apresenta-se como um defeito da fusão longitudinal de diferentes comprimentos e pode afetar o osso e a mucosa da linha média no palato mole.

    Entre as possíveis causas teremos :
- fatores hereditários
- deficiências nutricionais
- excesso de vitamina A e D
- alguns medicamentos
- terapias com corticosteróides
- plantas tóxicas teratogênicas
- fatores emocionais , estresse
- toxoplasmose (Toxoplasma gondii)

    Alguns estudos indicam que a suplementação com ácido fólico durante a gravidez reduz em quase  80% a incidência de fendas no palato.

  Os sintomas do problema são observados logo após o nascimento. O filhote tem dificuldade de mamar e torna-se mais fraco e magro que os demais. Observa-se com frequência a saída de leite pelas narinas devido a aspiração durante o ato de mamar. O diagnóstico é simples e feito pela simples inspeção da cavidade oral.

Tratamento
    O tratamento é cirúrgico e só pode ser realizado após o filhote completar dois meses de idade.
   Para evitar a aspiração e pneumonias o filhote deverá ser alimentado por sonda até a realização da cirurgia. Os casos mais graves são difíceis de serem tratados e com frequência o animal acaba indo a óbito por falta de nutrientes ou devido a pneumonia por aspiração.
    As fendas labiais são mais simples e fáceis de serem corrigidas. As fendas de palato secundário são sempre muito graves e a intervenção cirúrgica mais complicada.

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

ATROFIA PROGRESSIVA DE RETINA


A atrofia progressiva de retina (em inglês Progressive Retinal Atrophy = PRA) é uma doença hereditária autossômica recessiva, de caráter degenerativo que acomete ambos os olhos e leva a cegueira. A doença pode ocorrer em qualquer raça mas é observada com maior frequência em cães das raças Setter, Labrador Retriever, Poodle, Cocker Spaniel, Cão de Crista Chinês, Collie e Pastor de Shetland.
Nos chineses observa-se um tipo específico de degeneração de retina denominada PRCD ("progressive rod cone degeneration").

A doença se manifesta em animais adultos jovens, entre 1 e 5 anos de idade. Por ser uma patologia hereditária, os cães que são positivos e/ou portadores do gene não devem ser reproduzidos. A doença não tem cura, os animais positivos vão gradativamente perdendo a visão até ficarem completamente cegos. Por ser recessiva, alguns animais podem ser portadores do gene mas não manifestarem a doença, ou seja podem transmitir o problema para seus descendentes mas nunca ficarão doentes.

Inicialmente ocorre a perda da visão noturna (nictalopia) seguida de perda gradativa da visão diurna pois há o acometimento primeiramente dos bastonetes e depois dos cones. Há no início uma dificuldade de estabelecer padrões de luz e o cão pode perder-se na própria casa quando as luzes são apagadas.

Para confirmação do diagnóstico,  recomenda-se a realização de uma eletrorretinografia. Embora o ERG seja um procedimento não invasivo, a sedação é indicada para se reduzir interferências elétricas e artefatos de movimento. A luz para estimulação é colocada perto do olho e as respostas são gravadas usando 3 eletrodos. O eletrodo ativo (da gravação) é acoplado a uma lente de contato colocada na córnea. Os outros 2 eletrodos são colocados na pele para reduzir a interferência elétrica.
Para a detecção precoce ou para avaliação de doenças hereditárias dos fotorreceptores, o protocolo envolve um teste amplo dos cones e bastonetes, baseado em suas características fisiológicas diferentes.

É possível também se identificar os animais doentes e os portadores através de exame de DNA (prcd-PRA test).

Apesar de incurável, alguns estudos mostram que é possível reduzir os sintomas e até mesmo reduzir significativamente a progressão desta através de suplementação alimentar específica. Deste modo, o diagnóstico antes mesmo do animal apresentar os primeiros sintomas seria muito útil por permitiria a ação de medidas preventivas.

segunda-feira, 13 de junho de 2022

ESPOROTRICOSE

 A esporotricose, também conhecida como doença do jardineiro, é provocada por mais de uma espécie de fungo do gênero  Sporothrix , encontrado no solo e em plantas e de distribuição mundial, sendo muito comum no Rio de Janeiro, com número ascendente de casos na última década. 

A doença é mais comum em gatos mas também pode acometer outras espécies. Por ser transmissível ao homem é considerada um zoonose.

No Rio de Janeiro, o Hospital Evandro Chagas (Fiocruz) é considerado como referência para o tratamento da doença em seres humanos.

De acordo com a Agência Fiocruz de notícias, a maioria dos casos, no Rio de Janeiro, em seres humanos é oriunda de arranhões e mordeduras de felinos doentes.

A forma natural de contágio é por penetração de estruturas miceliais através de um ferimento. O fungo multiplica-se no nódulo linfático, onde fica retido, quando alcança um número elevado se espalha pelos vasos linfáticos. A doença é crônica e tem desenvolvimento lento.

Em humanos, observa-se a forma pápulo-nodular eritematosa que evolui para ferimentos ulcerados ou lesões verrucosas. Um linfangite nodular ascendente também pode ser observada. O período de incubação pode variar de alguns dias até 3 meses. As lesões são mais frequentes nos membros superiores e na face.
A forma cutânea da doença é a mais comum e pode se apresentar de 3 formas:
- forma cutânea localizada - com ferimentos superficiais sem comprometimento linfático
- forma cutâneo linfática  - é a forma mais comum. A lesão começa com a formação de um nódulo que ulcera. A partir desta lesão forma-se um cordão endurecido que segue pelos vasos linfáticos em direção os linfonodos.
- forma cutâneo disseminada - ocorre em paciente s imunossuprimidos. Lesões nodulares, ulceradas e verrucosas se disseminam pela pele.



Em felinos a forma cutânea da doença é a mais observada. As lesões são mais frequentes na região da cabeça. A forma extracutânea pode comprometer diversas áreas do organismo, com envolvimento dos pulmões, articulações, seios nasais ou sistema nervoso central. Sintomatologia respiratória (espirros, dispneia e secreção nasal), assim como linfangite e linfadenomegalia podem também ser observados. 



O diagnóstico definitivo requer isolamento do fungo em meio de cultura e posterior identificação, o que pode levar de quinze a vinte dias. Os exames de citopatologia e histopatologia são uma alternativa viável, com alto grau de confiabilidade e muito mais rápido permitindo que o animal não precise ficar tanto tempo aguardando para iniciar o tratamento. 
 





sábado, 26 de março de 2022

DIROFILARIOSE - VERME DO CORAÇÃO

 


A Dirofilariose é uma doença crônica causada por um verme chamado Dirofilaria. Uma vez que o cão seja contaminado pela larva (microfilária) ainda levará algum tempo até que esta se desenvolva e se instale no coração e nas artérias pulmonares.

A transmissão é feita por mais de uma espécie de mosquito e pesquisas recentes mostram que a doença não está mais restrita as áreas de praia e que vem se espalhando rapidamente por diversos estados do Brasil. A verminose é mais comum em cães mas também pode acometer gatos.

É uma doença silenciosa e portanto perigosa, pois o animal somente começa a apresentar sintomas, como tosse, cansaço, intolerância a exercício e apatia quando seu coração já está com uma quantidade muito grande de vermes adultos e a doença se encontra num estado avançado, muitas vezes irreversível.


    Dirofilaria sp - vermes adultos  
    foto by Mirko SAjkov - 


A boa notícia é que você pode fazer a prevenção para que seu cão não seja contaminado. Fazendo a prevenção no seu cão, você evita também que a doença seja ainda mais disseminada. Então, siga as orientações do veterinário e mantenha seu pet protegido.


domingo, 13 de março de 2022

OBSTRUÇÃO URETRAL EM GATOS


    

     A obstrução uretral ocorre com muita frequência em gatos, especialmente em machos, e podem ter causas diversas.  O sintoma principal é a incapacidade de urinar. O animal tenta mas não consegue pois o canal de passagem da urina está obstruído ("entupido"). É uma situação bastante grave e que necessita de atendimento de emergência. 

     Por ser um tema muito extenso irei dividir em mais de uma postagem para que não fique muito cansativa a leitura. Hoje falaremos do problemas de uma forma mais geral, vamos conversar um pouco sobre o porquê da necessidade de atendimento de emergência e de como saber quando procurar ajudar de um médico veterinário.   

   CAUSAS 

    As causas de obstrução mais comuns são por mucoproteínas e por presença de urólitos ("cálculos"), mas também podem ocorrer por transtornos funcionais da musculatura e neoplasias. Os felinos obstruídos possuem um processo inflamatório das vias urinárias que é acompanhado da presença de minerais (cristais e urólitos). 

   FISIOPATOLOGIA

    Vamos tentar entender o porquê é tão grave. O rim produz urina o tempo todo e essa urina é mandada para a bexiga. A bexiga é uma bolsa que cada vez que fica cheia envia uma mensagem pro cérebro avisando que o animalzinho precisa ir esvaziá-la. Agora imagine se tem uma pedrinha ou alguma outra coisa ali no caminho que não deixe a urina sair. Imaginou?  O rim vai continuar a funcionar, a urina não tem como sair, a vesícula urinária ("bexiga")  vai continuar tentando esticar pra conseguir acomodar todo aquele líquido mas sua capacidade é limitada. 

   Duas situações, ambas muito muito graves, podem acontecer: (1)  esse líquido começar a voltar ocasionando lesões no rim (por vezes irreversíveis); (2) a tensão dentro da bexiga ficar muito alta e haver o rompimento desta, acarretando o vazamento de urina e partículas com potêncial inflamatório (patógenos, urólitos, muco, sangue) para cavidade abdominal. 


    O QUE FAZER ? 

    Procurar imediatamente por um médico(a) veterinário(a) de sua confiança é imprescindível para o sucesso do tratamento, pois é uma situação muito grave e se não atendido a tempo o animalzinho pode inclusive vir a óbito. 

    O tratamento irá depender muito da causa e somente um vet será capaz de decidir qual o melhor método utilizar, Em alguns casos manobras são realizadas e a desobstrução é feita com a passagem de uma sonda uretral e lavagem da bexiga para retirada de todas as sujidades ali presentes. Entretanto algumas vezes pode ser necessária intervenção cirúrgica de emergência.

    É de extrema relevância que alguns pontos sejam observados:

- nunca tente passar uma sonda em seu próprio animal sem conhecimento técnico, pois um erro pode causar danos sérios a uretra como hemorragia e até mesmo rompimento da bexiga. 

- se seu gato(a) está sem urinar, primeiramente verifique se a caixinha de areia está suja, alguns animais não gostam de usar bandejas sujas e ficam "se prendendo". Ás vezes a simples troca da areia faz com que o seu bichano vá lá urinar.

- a presença de urina o excesso de força para urinar não é normal  - se observar isso - não espere  - procure logo um vet de sua confiança.

- nunca fique apertando a barriga do seu gatinho para que ele faça 'pipi" - você pode causar lesões ou mesmo romper a bexiga se ela estiver muito cheia e não houver passagem para saída da urina.

- o sucesso do tratamento depende não somente do seu veterinário mas também do tempo que você levará para procurar ajuda. Lembre-se veterinários não podem fazer milagres, quanto mais precoce for o atendimento maior a chance de sucesso. 


Referências Bibliográficas

Sozinho, A.C.C.F. 2019. Frequência da infeção bacteriana do trato urinário inferior como causa de obstrução uretral felina : estudo retrospetivo de 60 casos clínicos. Universidade de Lisboa, Faculdade de Medicina Veterinária, Lisboa.  https://www.repository.utl.pt/handle/10400.5/17335

SOUZA, LD.P  et al. 2021. O papel das urolitiasis na obstrução uretral de felinos domésticos: uma revisão de literatura. Research Society and Development v.10 n8. 

YEPES, G.E. et al. 2019. Obstrução uretral em felinos. Revista Unilago v1.n1. 

sexta-feira, 2 de abril de 2021

MASTOCITOMA EM CÃES


 

O mastocitoma é um tumor maligno bastante  frequente em cães, caracterizado pela proliferação neoplásica de mastócitos oriundos da medula óssea e do tecido conjuntivo. O local de maior incidência é a pele mas qualquer órgão pode ser afetado, sendo comum a presença de síndromes paraneoplásicas associadas a este tipo de tumor. 

De acordo com a  literatura aparentemente não há predisposição quanto ao sexo, porém se observa uma maior frequência desta neoplasia em cães da raça boxer e em bulldogues. A morfologia é bastante variável podendo surgir apenas um ou mais nódulos, simultaneamente em locais variados, com formas diferenciadas, algumas vezes com presença de ulcerações. 

Existem dois tipos de graduação utilizados por patologistas para classificação do mastocitoma: 

- o sistema proposto por Patnak et al (1984) que gradua de I a III. No sistema Patnak um tumor grau I dificilmente apresenta complicações, sendo raro a presença de metastáses, tendo portanto um melhor prognóstico. Um mastocitoma tipo II tem comportamento bastante imprevisível e comportamento biológico bastante variável sendo necessário exames complementares e a avaliação de outros parâmetros para se ter um possível prognóstico. O terceiro tipo (mastocitoma grau III) é o mais grave, tem comportamento agressivo, sendo o prognóstico reservado. Neste subtipo as metástases são frequentes e há alta chance de recidiva. 

- o sistema proposto por Kiupel et al (2011) que define como alto ou baixo grau de malignidade. De acordo com a literatura pesquisada um tumor de alto grau pelo sistema Kiupel se dependendo da precocidade do tratamento e da amplitude da neoplasia tem sobrevida de 4 meses a 2 anos 


TRATAMENTO 

A exérese cirúrgica associado a um tratamento complementar a ser determinado pelo médico veterinário após avaliação de cada caso em particular, podendo ser utilizada quimiotererapia, radioterapia ou crioterapia.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KIUPEL, M et al. . Proposal of a 2-tier histologic grading system for canine cutaneous mast cell tumors to more accurately predict biological behavior. Vet. Pathol. v.48. p.147, 2011. 

NATIVIDADE,F.S, et al. Análise de Sobrevida e Fatores Prognósticos de cães com mastocitoma cutâneo. Pesq. Vet. Bras. n.34. v.9. p.878-888. 2014

PATNAIK A.K., et al.  Canine cutaneous mast cell tumor: morphologic grading and survival time in 83 dogs. Vet. Pathol. n.21, p.469-474. 1984


sábado, 23 de janeiro de 2021

CRIPTOSPORIDIOSE EM CÃES

por Dra Márcia Baptista 



 A Criptosporidiose é uma doença causada por uma protozoário cosmopolita  (Filo Apicomplexa, Família Cryptosporiididae), o Cryptosporidium spp. A doença é mais frequente em cães mas também acomete gatos, bovinos e humanos. 

A infecção ocorre através do consumo de água e alimentos contaminados e pela ingestão direta de ovos (oocistos) contidos nas fezes em parques e áreas onde os animais costumam brincar. O parasita é bastante resistente e pode permanecer por longo tempo no ambiente. 

Os sintomas mais comuns são diarréia e febre. Outros sintomas incluem: perda de apetite, perda de peso, desidratação, letargia. Em filhotes e animais imunodebilitados a doença ocorre de forma grave e se não tratada rapidamente pode levar a óbito.

Cães adultos e saudáveis muitas vezes apresentam sintomas leves ou permanecem por um longo período assintomáticos.  Por isso é importante sempre recolher as fezes dos cães, manter sempre limpo e desintectado o ambiente onde seu pet vive e fazer exames períodicos. Quando tratada precocemente de forma adequada as chances de cura são de 100%

O diagnóstico é feito através de um exame de fezes e o tratamento deve incluir anti-protozoose e medicação de suporte de acordo com a gravidade dos sintomas. Não faça medicamentos sem o conhecimento e acompanhamento de um médico veterinário!


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

CRMV-MG. 2019. Atlas de  parasitologia veterinária; Cadernos Técnicos de Veterinária e Zootecnia, 92. 76p.

MOREIRA et al. 2018. Risk factors and infection due to Cryptosporidium spp. in dog and cats in southern Rio Grande do Sul. Braz.J.Vet. Parasitol. 27 (1):112-117. 

MORGAN et al, 2000. Cryptosporidum spp. in domestic dogs: the "Dog" genotype. Applied and Environmental Microbiology, 66 (5): 2220-2223


segunda-feira, 9 de novembro de 2020

O VÍRUS RÁBICO (LYSSAVIRUS) E OS MORCEGOS (MAMMALIA, CHIROPTERA):UMA BREVE REVISÃO


 

por Dra Márcia Baptista 

A raiva é causada por um vírus (gênero Lyssavirus, Família Rhabdoviridae) e é considerada uma das mais antigas zoonoses já descritas, tendo seus primeiros relatos no antigo Egito em 2300 a.C. e na Grécia Antiga por Aristóteles. Apesar de sua alta letalidade, o vírus rábico é bastante lábil e facilmente destruído quando fora do organismo. A contaminação normalmente ocorre através da pele lesionada em contato com a saliva de um animal doente. A transmissão por aerossóis pode ocorrer mas é muito rara e depende de uma população de vírus e de hospedeiros potenciais elevadas (Brass, 1994).


Diphylla ecaudata 

No Brasil temos 03 espécies de morcegos hematófagos: Desmodus rotundus (E. Geoffroy, 1810), Diphylla ecaudata (Spix, 1823) e Diaemus youngii (Jentink, 1893). Destes, D. rotundus constitui a forma mais abundante e mais generalista quanto ao tipo de presa, predando aves, répteis e mamíferos. As demais espécies, D ecaudata e D. youngi alimentam-se, em condições naturais, preferencialmente, do sangue de aves.

D. rotundus é um morcego de porte médio que vivem em colônias formadas por haréns ou por machos solteiros. Apresentam estrutura social complexa entre indiduos da mesma colônia, seguem alguns exemplos:

- reciprocidade na higiene entre as fêmeas, que lambem umas as outras e se ajudam na retirada de ectoparasitas e sujidades que estejam grudadas na pelagem. O mesmo cuidado é direcionado ao macho responsável pela colônia, aos filhotes e jovens.

-Divisão de alimento através de regurgitação com outros membros da colônia.

Os filhotes ficam separados em um berçário e sempre sob a supervisão de um adulto.

O morcego vampiro comum, D. rotundus, possui em sua saliva uma glicoproteína (inibidor do fato X) denominada “draculina”, e um ativador de plaminogênio (Desmodus Sallivary Plasminogen Activator), ambas com ação anticoagulante. Tal característica facilita sua alimentação pois o sangue da presa permanecerá escorrendo do ferimento por mais tempo. O estudo destas substâncias tem demonstrado várias aplicações no tratamento de doenças cardíacas e vasculares.

Os morcegos hematófagos são extremamente relevantes do ponto de vista sanitário e também econômico, pois podem acarretar perdas às criações de herbívoros, propiciadas pela hipovolemia decorrente das sucessivas mordeduras, pela infestação de larvas de mosca nas feridas, miíase, e pela mortalidade provocada pelo vírus rábico. Na América Tropical D. rotundus é considerado como o principal transmissor do vírus rábico

Nos últimos séculos com aumento da urbanização e a destruição descontrolada da Mata Atlântica associada à criação de grandes animais para abate, o homem involuntariamente fez com que o morcego vampiro se aproximasse mais das cidades. Vacas, cavalos, galinhas se tornaram uma fonte fácil e farta para uma espécie que antes precisava se contentar com pequenos animais silvestres nativos da região. A consequência disso foi um boom na população de morcegos hematófagos. Aos poucos, todavia, muitas áreas de fazenda foram substituídas por grandes cidades e a perda brusca da fonte de alimento fez com que fosse necessário encontrar novos tipos de presas.

Um levantamento detalhado dos casos de raiva em humanos no Brasil no período entre 1990 e 2017 é descrito por Vargas et al (2019). De acordo com os autores existem 594 casos oficialmente comprovados, a maioria em área rural. Entre 2009 e 2017 houveram 27 casos, dos quais 11 foram transmitidos por cães, 08 por morcegos, 04 por macacos e 03 por gatos.

Apesar das inúmeras campanhas de conscientização muitas pessoas ainda se mostram resistentes ou imprudentes e não vacinam anualmente seus animais. A vacina antirrábica deve ser realizada, por médico veterinário, não somente em cães e gatos mas também em equinos e ruminantes, e realizado reforço anual.

Para seres humanos a vacina antirrábica é indicada em duas situações de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS):

- pré-exposição - indicada para pessoas que trabalham em profissões de alto risco (veterinários, pesquisadores que trabalhem com animais silvestres, ou que fiquem expostos em locais onde haja risco de contaminação); moradores de regiões onde há alta incidência da doença; pessoas que irão viajar para locais muito isolados ou com risco de contágio.

- pós-exposição – indicada para pessoas após terem sido atacadas por animal suspeito para prevenir o desenvolvimento dos sintomas clínicos.


Na cidade de Niterói, Rio de Janeiro, nos últimos anos, tem havido relatos de ataques de morcegos hematófagos a cães.

Na cidade de Niterói, Rio de Janeiro, nos últimos anos, tem-se tido relatos de ataques de morcegos hematófagos a cães. Em 29 de junho do corrente ano, um cão macho da raça dálmata de 07 anos foi atendido pela M.V. Flávia C. R. Nascimento, no bairro Peixoto, Itaipu, apresentando um ferimento oval na pata anterior direita, compatível com lesão ocasionada por morcegos hematófagos. A suspeita foi confirmada através da câmera de segurança da residência. O incidente foi notificado e devidamente registrado no centro de controle de zoonoses de Niterói, RJ.


Pesquisas recentes revelam que apesar de não serem muito frequentes os casos de raiva em cães, o vírus ainda mata animais silvestres no estado do Rio de Janeiro. A doença existe e a única forma de conseguirmos não retroceder no tempo com um crescimento no número de casos no país, não apenas em cães e gatos mas também em humanos, é através da prevenção.

Devemos ter em mente que qualquer mamífero é capaz de se contaminar e transmitir o Lyssavirus. Portanto é de grande importância ressaltar que matar indiscriminadamente animais silvestres, como por exemplo, micos e gambás, não irá solucionar o problema. Pelo contrário, a falta de presas irá fazer com que cada vez mais os morcegos hematófagos precisem procurar alimento nos centros urbanos. Bernardes-Filho et al (2014) descreve um caso de um homem de 42 anos que sofreu múltiplos ataques por Desmodus rotundus também na cidade de Niterói.

Da mesma forma, matar morcegos aleatoriamente também não resolverá o problema e ainda causará um desequilíbrio ecológico no ecossistema da região pois das mais de 70 espécies existentes somente uma se alimenta do sangue de mamíferos. As demais espécies se alimentam de néctar, frutas e insetos e auxiliam inclusive no controle de mosquitos e outros insetos de uma região.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BERNARDES-FILHO, F.
Et al. 2014. Multiples lesions by vampire bat bites in a patiente in Niterói, Brasil, Case Report. An. Bra. Dermatol. 89(2):340-343.

KAKUMANU, R. et al. 2019.Vampire Venom: Vasodilatory Mechanisms of Vampire Bat (Desmodus rotundus) Blood Feeding. Toxins (Basel). 11(1): 26.

PERACCHI, A & NOGUEIRA, M. 2010. Lista anotada dos morcegos do Estado do Rio de Janeiro, sudeste do Brasil. Chiroptera Neotropical, 16.

SANTOS, Hertz. 1998. Estudo de uma colônia de morcegos hematófagos, Desmodus rotundus (PHYLLOSTOMIDAE, DESMODONTINAE), na Fazenda Santa Carlota, Município de Cajuru, São Paulo.. Universidade de São Paulo, Disssertação de Mestrado em Zoologia.

SODRÉ, M. M. et al. 2010. Update list of bat species positive for rabies in Brazil. Rev. Inst. Med. Trop. São Paulo, 52(2):75-81.

VARGAS et al. 2019. Human Rabies in Brazil: a descriptive study, 2000-2017. Epiodemiol. Serv. Saude. 28(2)

WILKINSON G.S. 1984. Reciprocal food sharing in vampire bats. Nature 309:181–184

WORLD HEALTH ORGANIZATION https://www.who.int/ith/vaccines/rabies/en/