sexta-feira, 9 de setembro de 2022

ATROFIA PROGRESSIVA DE RETINA


A atrofia progressiva de retina (em inglês Progressive Retinal Atrophy = PRA) é uma doença hereditária autossômica recessiva, de caráter degenerativo que acomete ambos os olhos e leva a cegueira. A doença pode ocorrer em qualquer raça mas é observada com maior frequência em cães das raças Setter, Labrador Retriever, Poodle, Cocker Spaniel, Cão de Crista Chinês, Collie e Pastor de Shetland.
Nos chineses observa-se um tipo específico de degeneração de retina denominada PRCD ("progressive rod cone degeneration").

A doença se manifesta em animais adultos jovens, entre 1 e 5 anos de idade. Por ser uma patologia hereditária, os cães que são positivos e/ou portadores do gene não devem ser reproduzidos. A doença não tem cura, os animais positivos vão gradativamente perdendo a visão até ficarem completamente cegos. Por ser recessiva, alguns animais podem ser portadores do gene mas não manifestarem a doença, ou seja podem transmitir o problema para seus descendentes mas nunca ficarão doentes.

Inicialmente ocorre a perda da visão noturna (nictalopia) seguida de perda gradativa da visão diurna pois há o acometimento primeiramente dos bastonetes e depois dos cones. Há no início uma dificuldade de estabelecer padrões de luz e o cão pode perder-se na própria casa quando as luzes são apagadas.

Para confirmação do diagnóstico,  recomenda-se a realização de uma eletrorretinografia. Embora o ERG seja um procedimento não invasivo, a sedação é indicada para se reduzir interferências elétricas e artefatos de movimento. A luz para estimulação é colocada perto do olho e as respostas são gravadas usando 3 eletrodos. O eletrodo ativo (da gravação) é acoplado a uma lente de contato colocada na córnea. Os outros 2 eletrodos são colocados na pele para reduzir a interferência elétrica.
Para a detecção precoce ou para avaliação de doenças hereditárias dos fotorreceptores, o protocolo envolve um teste amplo dos cones e bastonetes, baseado em suas características fisiológicas diferentes.

É possível também se identificar os animais doentes e os portadores através de exame de DNA (prcd-PRA test).

Apesar de incurável, alguns estudos mostram que é possível reduzir os sintomas e até mesmo reduzir significativamente a progressão desta através de suplementação alimentar específica. Deste modo, o diagnóstico antes mesmo do animal apresentar os primeiros sintomas seria muito útil por permitiria a ação de medidas preventivas.

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

RINOTRAQUEITE FELINA





A rinotraqueíte felina é uma doença altamente contagiosa, que acomete o trato respiratório superior e é ocasionada pelo Herpesvírus Felino Tipo I.
O gato doméstico é o principal hospedeiro do vírus mas outras espécies silvestres também podem adoecer.

O vírus é eliminado com as secreções nasais e lacrimais, assim como pela saliva, especialmente na forma de aerossol, pelos animais doentes. O vírus pode se replicar tanto nas células epiteliais da conjuntiva como no trato respiratório superior e também nos neurônios. A infecção neural permite ao vírus estabelecer longo estado de latência após a infecção primária

É uma enfermidade muito comum em gatos e que apresenta uma alta taxa de mortalidade. Os animais que sobrevivem se tornam portadores pois a doença não tem cura. Os gatos que conseguem superar a fase letal da doença irão passar o resto da vida  apresentando sintomas como hipersalivação, espirros, tosse, dispnéia, conjuntivite e corrimento óculo-nasal que varia de seroso a mucopurelenta.
O problema é especialmente grave em abrigos, onde muitos animais vivem confinados. Apesar da sua letalidade a doença pode ser facilmente evitada pela vacinação anual  preventiva

CONSULTE SEMPRE SEU VETERINÁRIO !


segunda-feira, 25 de julho de 2022

HETEROCROMIA

 


Heterocromia iridium ou  simplesmente heterocromia, é uma condição que pode ocorrer em diversas espécies, inclusive em humanos.

Em felinos esta condição ocorre devido a uma falha durante a embriogênese na formação de melanócitos em apenas um dos lados levando a formação de cores diferentes.
Tal condição está normalmente associada a despigmentação não apenas da região da íris mas também de outras estruturas derivadas do ectoderma como pele e pelos, com frequência está associada a surdez congênita (não necessariamente hereditária).

segunda-feira, 13 de junho de 2022

ESPOROTRICOSE

 A esporotricose, também conhecida como doença do jardineiro, é provocada por mais de uma espécie de fungo do gênero  Sporothrix , encontrado no solo e em plantas e de distribuição mundial, sendo muito comum no Rio de Janeiro, com número ascendente de casos na última década. 

A doença é mais comum em gatos mas também pode acometer outras espécies. Por ser transmissível ao homem é considerada um zoonose.

No Rio de Janeiro, o Hospital Evandro Chagas (Fiocruz) é considerado como referência para o tratamento da doença em seres humanos.

De acordo com a Agência Fiocruz de notícias, a maioria dos casos, no Rio de Janeiro, em seres humanos é oriunda de arranhões e mordeduras de felinos doentes.

A forma natural de contágio é por penetração de estruturas miceliais através de um ferimento. O fungo multiplica-se no nódulo linfático, onde fica retido, quando alcança um número elevado se espalha pelos vasos linfáticos. A doença é crônica e tem desenvolvimento lento.

Em humanos, observa-se a forma pápulo-nodular eritematosa que evolui para ferimentos ulcerados ou lesões verrucosas. Um linfangite nodular ascendente também pode ser observada. O período de incubação pode variar de alguns dias até 3 meses. As lesões são mais frequentes nos membros superiores e na face.
A forma cutânea da doença é a mais comum e pode se apresentar de 3 formas:
- forma cutânea localizada - com ferimentos superficiais sem comprometimento linfático
- forma cutâneo linfática  - é a forma mais comum. A lesão começa com a formação de um nódulo que ulcera. A partir desta lesão forma-se um cordão endurecido que segue pelos vasos linfáticos em direção os linfonodos.
- forma cutâneo disseminada - ocorre em paciente s imunossuprimidos. Lesões nodulares, ulceradas e verrucosas se disseminam pela pele.



Em felinos a forma cutânea da doença é a mais observada. As lesões são mais frequentes na região da cabeça. A forma extracutânea pode comprometer diversas áreas do organismo, com envolvimento dos pulmões, articulações, seios nasais ou sistema nervoso central. Sintomatologia respiratória (espirros, dispneia e secreção nasal), assim como linfangite e linfadenomegalia podem também ser observados. 



O diagnóstico definitivo requer isolamento do fungo em meio de cultura e posterior identificação, o que pode levar de quinze a vinte dias. Os exames de citopatologia e histopatologia são uma alternativa viável, com alto grau de confiabilidade e muito mais rápido permitindo que o animal não precise ficar tanto tempo aguardando para iniciar o tratamento. 
 





segunda-feira, 25 de abril de 2022

VAMOS FALAR DE CHOCOLATES ?

 

foto by Marcus Knott



Tudo começou quando Gregor Mendel começou a observar ervilhas e demonstrou que os genes ocorrem em pares, criando conceitos que serviram como base para o desenvolvimento da genética e da compreensão do DNA.

A pelagem dos cães é determinada por diferentes pares de genes, tornando seu estudo um pouco mais complexo e extremamente interessante. Vou tentar explicar passo a passo para facilitar a compreensão desse universo mágico de cores que podemos observar nas mais diferentes raças caninas. Neste post vou me ater basicamente ao genótipo que determina o fenótipo fígado (chocolate).

A cor fígado em algumas raças recebe a denominação de chocolate e é ocasionada pelo gene recessivo "b". Por ser recessivo para que o fenótipo ocorra é necessário que esteja em homozigose ou seja "bb" (a presença do gene "B" não permite a expressão da cor fígado).
O gene B afeta somente a eumelanina (pigmento preto), sendo assim para ter a cor fígado, é preciso que se tenha o dupla "b" associado a presença da eumelanina (isso inclui também os merles e os mantados).

Para ser considerado fígado (chocolate) o cão NÃO pode apresentar pelos preto na pelagem! É geneticamente impossível um cão figado apresentar pelos pretos ou cinzas (azul), assim como é impossível um cão preto ou  cinza possuir marcações fígado na pelagem.

O fígado não é a diluição de uma cor e sim a forma homozigota recessiva da eumelanina! Este é um ponto importante para que se possa compreender as nuances de marrom existentes.
O termo diluição somente pode ser utilizado quando tem-se a presença do locus D, cujo gene recessivo "d" irá diluir o fígado ou o preto levando as cores conhecidas como isabela, lilac, light chocolate e azul.
Assim como a pelagem, as cores da trufa e dos olhos também serão afetadas por esses mesmos genes. 

O cão fígado (chocolate) pode, entretanto, conter também a feomelanina cuja expressividade irá depender da presença dos locus A e K 



Como o locus "D" afeta de forma diferente a eumelanina e a feomelanina, quando acompanhado do gene At  teremos os cães conhecidos como black and tan e chocolate and tan (exemplo - doberman)

(foto - internet / google)






Se além do At tivermos também a presenta do locus S teremos as pelagens tricolores observadas por exemplo  na raça terrier brasileiro e no cão de crista chinês 

Terrier brasileiro - pelagem tricolor 
(Foto Thayana Andrade - Canil Jardim Imbuí)


Cão de Crista Chinês 
(Foto; M. Baptista)


Algumas vezes a feomelanina é confundida com a eumelanina levando a erros na classificação e denominação das pelagens principalmente em raças onde uma ampla variedade de cores é aceita. Dependendo da forma como se expresse a feomelanina pode acarretar um tom castanho que lembra a cor fígado. Este "falso chocolate" terá trufa  preta, olhos predominantemente escuros e pode ou não apresentar pelos pretos na forma de patch ou nas pontas (locus A - alelos Ay / sable )


Spitz Alemão (Pomerânia) - repare na  mudança na cor do filhote para o adulto 
Foto: Rafael Pina - Canil Life Kingdom


Cão de Crista Chinês - pelagem vermelho sable 
(Foto: M. Baptista)


Em algumas raças a cor fígado é chamada de vermelho. Isto, do ponto de vista genético, é incorreto e faz com que muitos confundam o vermelho escuro com o fígado. Vale ressaltar que o vermelho se origina a partir da feomelanina e o fígado (chocolate) a partir da eumelanina, logo são cores completamente distintas do ponto de vista genotípico.

Repare nas duas fotos abaixo. Ambos os cães apresentam tan points (são tricolors) e se olhar rapidamente pode parecer que ambos são da mesma cor. Entretanto, se olhar com atenção ira perceber que o Aussie apresenta trufa da mesma cor da pelagem e tem um tom mais uniforme, enquanto que o chinese tem nuances mais escuros e trufa preta. O primeiro é um cão de pelagem fígado verdadeira ("bb"), enquanto o segundo apresenta cor derivada da expressão da feomelanina.


No caso da feomelanina temos alguns outros locus interferindo (locus A, K e E)  mas vamos deixar essa conversar para um proximo post. 

sábado, 26 de março de 2022

DIROFILARIOSE - VERME DO CORAÇÃO

 


A Dirofilariose é uma doença crônica causada por um verme chamado Dirofilaria. Uma vez que o cão seja contaminado pela larva (microfilária) ainda levará algum tempo até que esta se desenvolva e se instale no coração e nas artérias pulmonares.

A transmissão é feita por mais de uma espécie de mosquito e pesquisas recentes mostram que a doença não está mais restrita as áreas de praia e que vem se espalhando rapidamente por diversos estados do Brasil. A verminose é mais comum em cães mas também pode acometer gatos.

É uma doença silenciosa e portanto perigosa, pois o animal somente começa a apresentar sintomas, como tosse, cansaço, intolerância a exercício e apatia quando seu coração já está com uma quantidade muito grande de vermes adultos e a doença se encontra num estado avançado, muitas vezes irreversível.


    Dirofilaria sp - vermes adultos  
    foto by Mirko SAjkov - 


A boa notícia é que você pode fazer a prevenção para que seu cão não seja contaminado. Fazendo a prevenção no seu cão, você evita também que a doença seja ainda mais disseminada. Então, siga as orientações do veterinário e mantenha seu pet protegido.


domingo, 13 de março de 2022

OBSTRUÇÃO URETRAL EM GATOS


    

     A obstrução uretral ocorre com muita frequência em gatos, especialmente em machos, e podem ter causas diversas.  O sintoma principal é a incapacidade de urinar. O animal tenta mas não consegue pois o canal de passagem da urina está obstruído ("entupido"). É uma situação bastante grave e que necessita de atendimento de emergência. 

     Por ser um tema muito extenso irei dividir em mais de uma postagem para que não fique muito cansativa a leitura. Hoje falaremos do problemas de uma forma mais geral, vamos conversar um pouco sobre o porquê da necessidade de atendimento de emergência e de como saber quando procurar ajudar de um médico veterinário.   

   CAUSAS 

    As causas de obstrução mais comuns são por mucoproteínas e por presença de urólitos ("cálculos"), mas também podem ocorrer por transtornos funcionais da musculatura e neoplasias. Os felinos obstruídos possuem um processo inflamatório das vias urinárias que é acompanhado da presença de minerais (cristais e urólitos). 

   FISIOPATOLOGIA

    Vamos tentar entender o porquê é tão grave. O rim produz urina o tempo todo e essa urina é mandada para a bexiga. A bexiga é uma bolsa que cada vez que fica cheia envia uma mensagem pro cérebro avisando que o animalzinho precisa ir esvaziá-la. Agora imagine se tem uma pedrinha ou alguma outra coisa ali no caminho que não deixe a urina sair. Imaginou?  O rim vai continuar a funcionar, a urina não tem como sair, a vesícula urinária ("bexiga")  vai continuar tentando esticar pra conseguir acomodar todo aquele líquido mas sua capacidade é limitada. 

   Duas situações, ambas muito muito graves, podem acontecer: (1)  esse líquido começar a voltar ocasionando lesões no rim (por vezes irreversíveis); (2) a tensão dentro da bexiga ficar muito alta e haver o rompimento desta, acarretando o vazamento de urina e partículas com potêncial inflamatório (patógenos, urólitos, muco, sangue) para cavidade abdominal. 


    O QUE FAZER ? 

    Procurar imediatamente por um médico(a) veterinário(a) de sua confiança é imprescindível para o sucesso do tratamento, pois é uma situação muito grave e se não atendido a tempo o animalzinho pode inclusive vir a óbito. 

    O tratamento irá depender muito da causa e somente um vet será capaz de decidir qual o melhor método utilizar, Em alguns casos manobras são realizadas e a desobstrução é feita com a passagem de uma sonda uretral e lavagem da bexiga para retirada de todas as sujidades ali presentes. Entretanto algumas vezes pode ser necessária intervenção cirúrgica de emergência.

    É de extrema relevância que alguns pontos sejam observados:

- nunca tente passar uma sonda em seu próprio animal sem conhecimento técnico, pois um erro pode causar danos sérios a uretra como hemorragia e até mesmo rompimento da bexiga. 

- se seu gato(a) está sem urinar, primeiramente verifique se a caixinha de areia está suja, alguns animais não gostam de usar bandejas sujas e ficam "se prendendo". Ás vezes a simples troca da areia faz com que o seu bichano vá lá urinar.

- a presença de urina o excesso de força para urinar não é normal  - se observar isso - não espere  - procure logo um vet de sua confiança.

- nunca fique apertando a barriga do seu gatinho para que ele faça 'pipi" - você pode causar lesões ou mesmo romper a bexiga se ela estiver muito cheia e não houver passagem para saída da urina.

- o sucesso do tratamento depende não somente do seu veterinário mas também do tempo que você levará para procurar ajuda. Lembre-se veterinários não podem fazer milagres, quanto mais precoce for o atendimento maior a chance de sucesso. 


Referências Bibliográficas

Sozinho, A.C.C.F. 2019. Frequência da infeção bacteriana do trato urinário inferior como causa de obstrução uretral felina : estudo retrospetivo de 60 casos clínicos. Universidade de Lisboa, Faculdade de Medicina Veterinária, Lisboa.  https://www.repository.utl.pt/handle/10400.5/17335

SOUZA, LD.P  et al. 2021. O papel das urolitiasis na obstrução uretral de felinos domésticos: uma revisão de literatura. Research Society and Development v.10 n8. 

YEPES, G.E. et al. 2019. Obstrução uretral em felinos. Revista Unilago v1.n1.